Ed. Fisica

quinta-feira, 1 de abril de 2010


ATIVIDADE RÍTMICA NO PROCESSO EDUCACIONAL

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Ao analisar as manifestações rítmicas folclóricas ou populares foram suprimidas do tempo de diversão escolar e lazer do ser humano, por outro, passam a ser reconhecidas e valorizadas por parte dos estudiosos e educadores, no sentido de serem integradas na educação formal e não-formal em diferentes instituições, enquanto conteúdo terapêutico na reeducação psicomotriz de pessoas deficientes ou com disfunções na aprendizagem, e também, como conteúdo pedagógico para a aquisição de conhecimentos, desenvolvimento de normas e padrões de convívio social, diversão e recreação dos educandos e, além disso, para promover o descanso, a diversão e o desenvolvimento pessoal e social, fruindo, assim, dos valores do lazer
No entanto, compreender a Atividade Rítmica na perspectiva do crescimento e desenvolvimento motor, visando uma educação integral do ser humano, não é tarefa tão fácil, principalmente por estar relacionada às áreas da música e arte e por ser comumente concebida na Educação Física e no Lazer apenas como meras atividades lúdicas com o intuito de divertir, entreter e passar o tempo. Concepção esta, que deve ser revista pelos profissionais, necessitando maiores reflexões e aprofundamentos, no sentido de compreender seus conteúdos, significados e valores enquanto manifestação da cultura corporal, bem como, entender as suas relações com as outras áreas do conhecimento humano.

NODA e MELCHERTS (1984), ao estudarem a Atividade Rítmica como conhecimento da Educação Física no ensino escolar, relatam que seria mais um conteúdo educacional a ser proposto para os discentes, possibilitando-os a escolher este meio de expressão corporal de acordo com suas necessidades e interesses de momento, e enfatizam: “é a disciplina do sentido rítmico muscular; [pois] converte o corpo em um instrumento onde vibra o ritmo”. Tem como finalidade essencial, estimular e “desenvolver o ritmo físico, educar o ritmo emocional e proporcionar conhecimentos indispensáveis do ritmo musical; ...”, através da ginástica, da ritmoplastia e da dança como conteúdos que estão intrinsicamente relacionados, sendo a dança o coroamento da ritmoplastia, que por sua vez, é o aperfeiçoamento da ginástica .
Nesta linha de pensamento, compreende-se que a Atividade Rítmica enquanto conhecimento da Educação Física e conteúdo de interesse físico no Lazer, deve enfatizar fundamentos que dão ênfase ao movimento com sons e música ou a música e sons para inspirar o movimento, através de vivências e experiências diversas, no sentido de possibilitar a expressão corporal e a educação rítmica, desenvolvendo de forma simultânea o domínio motor, cognitivo e afetivo-social. Desta forma, deve ser integrada e aliada aos outros conteúdos educacionais destas áreas de atuação, caracterizando-se, assim, uma opção a mais de vivência, aprendizagem e aperfeiçoamento da motricidade humana.
Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio (1997), no referencial bibliográfico de NODA e MELCHERTS (1984), LIMA (2002) e em nossas experiências educacionais, compreende-se que os conteúdos da Atividade Rítmica para o ensino-aprendizagem do movimento, enquanto atividade física, consistem no seguinte: Educação dos movimentos naturais com percussão corporal, instrumental e música; Brinquedos cantados ou jogos rítmicos; Dramatização com canto ou música; Dança folclórica, popular, elementar e de salão em ritmos regionais, nacionais ou internacionais.

São fundamentos que se apresentam intrinsicamente interligados e relacionados, no entanto, uma análise específica é fundamental para melhor compreensão das partes e da Atividade Rítmica como um todo.

No que diz respeito à Educação dos Movimentos Naturais com percussão corporal, instrumental e música, NODA e MELCHERTS (1984), relatam que “destina-se a atender às necessidades de movimentação dinâmica dos jovens em idade escolar”, consistindo em atividades ou exercícios que têm o movimento natural como princípio básico. Ou seja, utilizam-se as formas básicas de locomoção como o andar, correr, saltar, saltitar, girar e suas diferentes variações e associações desenvolvidas naturalmente, com sons ou música.

Segundo as autoras, cada movimento natural pode ser representado por vários estímulos que lhe dão características próprias em relação à forma, à direção, à trajetória, à duração, à intensidade e à força. Essas variações, por si próprias, influenciam decididamente na natureza do ritmo dos movimentos naturais e, conforme ROSSETE (1992), o ritmo se estrutura na manifestação do movimento num tempo e espaço determinados em qualquer ação motora.
Observa-se assim, que os movimentos naturais são regidos pelo ritmo na perspectiva individual ou grupal, ao vivenciar as diferentes formas básicas de locomoção e os diferentes estímulos que representam as suas variações, desenvolvendo a educação rítmica do movimento humano, sobretudo, pode-se enfatizar relacionado à educação musical, caracterizando-se um conteúdo da Atividade Rítmica.
Nesta linha de pensamento, entende-se que os educadores e animadores sócio-culturais devem proporcionar à clientela, propostas de movimentos naturais específicos ou associados, utilizando as diferentes variações que os representam (forma, direção, trajetória, duração, intensidade e força) através de recursos acústicos como a percussão corporal, instrumental e a música, visando uma maximização rítmica na expressão dos movimentos naturais dos praticantes.

Com relação ao brinquedo cantado ou jogo rítmico, a bibliografia consultada mostra que os autores utilizam diversos termos para designá-lo, como: declamação ritmada, brincadeira de roda, cantiga de roda, brincadeira cantada, jogo falado e jogo rítmico. Usando esta última terminologia, NODA e MELCHERTS (1984), relatam que são temas musicados e criativos que implicam em reações individuais ou grupais, às vezes, com perguntas e respostas, com gritos ou ecos e com formas de movimentos, ou como “um jogo pré-determinado, recreativo e educativo em que a criança canta e se movimenta [...] de fácil assimilação e de agrado da mesma”, caracterizando-se a forma mais elementar e antiga da Atividade Rítmica.

A dramatização com canção ou música enquanto conteúdo da Atividade Rítmica, constitui-se em utilizar canções ou músicas que relatam estórias ou fatos em que os praticantes são estimulados e orientados a se movimentarem, de forma a manifestarem o conteúdo das músicas através da expressão corporal, que podem ser da cultura folclórica, erudita, popular ou de massa, veiculadas ou não pelos meios de comunicação.
Verifica-se que existe um grande número de brinquedos cantados em que a essência esta na dramatização da letra, como por exemplo: A linda rosa juvenil, Meu pintinho amarelinho, entre outros. Entretanto, ao utilizar estes brinquedos cantados, tendo como meta uma dramatização efetiva, deve-se mostrar todas as possibilidades de representar o cenário que a letra envolve e sugere através da expressão corporal, utilizando-se expressões faciais, gestos e deslocamentos, como também, objetos e materiais.
Atualmente, nos cursos de aperfeiçoamento de dança, observa-se um outro aspecto em relação a esta temática. São as atividades nominadas como “aquecimento expressivo” e “relaxamento expressivo” que consistem em utilizar determina música, expressando o seu conteúdo corporalmente, através de gestos e deslocamentos em determinadas partes que sugerem a mímica e, em outras frases musicais utilizam-se de uma seqüência de movimentos, caracterizando-se, na maioria das vezes, uma coreografia elementar de dança.
A dança enquanto cultura corporal, segundo GARAUDY (1980), ao analisar sua história, descreve que esta foi para todos os povos, em todos os tempos, “a expressão, através de movimentos do corpo organizados em seqüências significativas, de experiências que transcendem o poder das palavras e da mímica”.
Nesta linha de pensamento, BÉJART (1980), ao falar sobre a dança, diz que: “O homem faz parte de um dado grupo étnico, social, cultural. E tem necessidade de se sentir fazendo parte integralmente deste grupo: de estar em relação com os outros. Muito mais do que as leis, os costumes, o traje e a linguagem, é o gesto que vai dar existência a essa união"

Neste contexto, percebe-se que a dança é uma linguagem corporal histórico-social que se expressa de forma diferenciada nas diversas populações, caracterizando, muitas vezes, a formação étnica, tradição de hábitos e costumes culturais e representando valores e princípios referentes ao contexto sócio-cultural no qual as pessoas estão inseridas.

Existem, hoje, inúmeras formas de danças, com diferentes nomes e objetivos enquanto atividade física, esportiva ou arte, no âmbito da Educação Física escolar ou conteúdo de lazer nas escolas, academias e clubes. No entanto, se a compreensão da dança a ser proposta para a clientela, segundo LIMA (2002, p.8), “é atividade física, calcada em exercícios físicos” e não arte (interpretação ou execução como obra para efeito de exibição ou divulgação em espetáculo), deve ser entendida como “uma atividade meio contemplada pela Educação Física, enquanto processo gímnico”, que possui movimentos rítmicos cadenciados que traduzem emoções, fantasias, idéias e sentimentos, assim, portanto “... deverá estar pautada em princípios de qualidade ética e profissional”, ou seja, as propostas de danças devem ser norteadas pelos conhecimentos pedagógicos e científicos

Nesta perspectiva, trabalhar a dança enquanto linguagem corporal nas aulas de Educação Física ou propostas de lazer, é uma forma de possibilitar as pessoas a expressarem a sua maneira de ser, liberando os tabus e as repressões corporais, adquirirem consciência corporal na perspectiva da totalidade, promovendo sua formação e educação integral.
Finalizando esta temática, é importante destacar que os conteúdos da Atividade Rítmica acima abordados, podem e devem ser propiciados para diferentes grupos etários e sociais, em diferentes instituições e locais, desenvolvidas de forma específica ou integrada em relação aos seus conteúdos ou a outro(s) conhecimento(s) destas áreas de atuação profissional. No entanto, devem estar de acordo com as características gerais da clientela (fisiológicas, psicológicas e sociológicas), necessidades e interesses, bem como, estarem relacionadas ao(s) objetivo(s) que se tem como meta. Além disso, o educador ou animador deve conhecer a cultura na qual a clientela está inserida, no sentido de verificar quais são as atividades físicas e músicas de maior preferência, aproveitando-as nas propostas educacionais, ou seja, pode e deve aproveitar a cultura folclórica, popular e de massa, presente no grupo familiar, social e nos meios de comunicação de massa integrando-as nas aulas de Educação Física ou propostas de Lazer. Vincular as experiências às culturas das pessoas dará um maior “sentido” na participação e vivência deste conhecimento.

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